top of page

Os riscos da ausência de limites e da negligência afetiva

Educar um filho é a missão mais nobre e uma das mais árduas e desafiadoras. Amar os filhos significa impor limites e disciplina para preparar o educando para os desafios da vida adulta. Os limites precisam ser claros, consistentes e previamente combinados para que a criança ou o adolescente saiba o que pode e o que não pode. Pais e mães permissivos, filhos abusivos – é um mote da sabedoria popular. Imprescindível é dar a segurança do amor ao rebento, nutri-lo afetivamente, lembrando que importa mais a qualidade do afeto que a quantidade de tempo disponível. Afinal, a paternidade ou a maternidade responsável é uma missão e um dever aos quais não se pode furtar, amiúde, não raramente, veem-se filhos órfãos de pais e mães vivos. Negligência afetiva se caracteriza quando se é em demasia concessivo, tíbio e ausente, em vez de assertivo, intenso e proativo na relação com o filho ou a filha.


Afeto e limites são como pratos distintos de uma balança, na qual se busca um saldo equilibrado: no dia a dia, há horas em que prevalece a convivência prazerosa e há horas em que a prevalência deve ser das obrigações. Assim como um rio não existiria sem que as margens balizassem ou limitassem o ímpeto de suas águas, também não haverá adulto responsável, solidário, bom cidadão e bom filho sem os limites bem definidos – e obedecidos – na infância e na adolescência.


Para os filhos, desde muito cedo, somos modelos. Eles compreenderão nossa árdua labuta pela sobrevivência profissional e para o importante papel de provedores. Apesar das elevadas exigências da vida contemporânea, é possível ajustar os deveres familiares com as obrigações profissionais. Sim, é necessário renúncia, ou seja, significa menos convivência com amigos, menos telas e mídias sociais, menos academia e menos lazer. O dia foi extenuante, mesmo assim podemos ir além para atender as obrigações. A escritora e psicóloga Rosely Sayão é enfática: “O mundo mudou muito e as crianças, também. Só uma coisa não mudou: elas continuam a necessitar da presença cuidadora, reguladora, protetora e atenciosa dos adultos.”


Crianças (em especial) e adolescentes necessitam de uma rotina bem estabelecida: 1) sono reparador em ambiente silente, sem interferências de telas ou outros gadgets eletrônicos; 2) alimentação saudável (com proteínas, frutas, verduras), a mais variada possível, para que o organismo metabolize todos os nutrientes necessários; 3) prática de esportes, pois desenvolve a sociabilização, as habilidades motoras e cognitivas; 4) hábitos de higiene e cooperação com as tarefas de casa, importante para o desenvolvimento da autonomia e de uma boa convivência social; 5) e os estudos, obrigação primeira, por isso é preciso estabelecer horários fixos, em ambiente apropriado com mesa, cadeira, rascunhos, distante dos eletrônicos não absolutamente necessários. A escola deve ser valorizada não só em razão da aprendizagem dos conteúdos, mas pelos valores, pela convivência com a diversidade, pela solução de conflitos, etc.


Em minha experiência profissional como professor e diretor de escolas, muito chamou atenção o grande número de pais e mães superprotetores e excessivos na concessão de benesses aos filhos, atitudes limitadoras para o desenvolvimento da autonomia e sociabilização. Cheguei a ter ímpetos de fincar uma tabuleta no gramado em frente ao prédio escolar, com palavras bem singelas: “Amem mais os seus filhos, não facilitem demais as coisas para eles”. Ou, até mesmo, afixar uma faixa com palavras e símbolos bem estilizados: “+ brincadeiras e – telas”. Talvez lhe pareça ridículo, caro leitor ou leitora: tabuleta? faixa? Sim, para os tempos atuais pode parecer antiquado, demodê, mas é para chamar atenção em meio a tanta algaravia eletrônica.


E ninguém se aposenta do papel de pai e mãe: é como ter um segundo coração, um coração fora do seu corpo. Bem oportuna é a frase de Ray Dalio, em seu best seller intitulado Princípios: "Ter filhos é uma decisão difícil e irrevogável." Seguramente, filhos nos tornam pessoas melhores, eles vêm para serem nossos professores. Não os ter já é uma opção de muitos casais, bem respeitada, sejam quais forem as motivações. No Brasil, a taxa de fecundidade em 2022 foi de 1,6 filho, quando a taxa de reposição é de 2,1. Não faz tempo, em 1960, a taxa de fecundidade era de 6,1.


Para finalizar, quem merece toda a nossa reverência, ninguém mais, ninguém menos que José Saramago, Nobel de Literatura em 1998 e Prêmio Camões em 1995, falecido em 2010: “Filho é um ser que nos foi emprestado para um curso intensivo de como amar alguém além de nós mesmos, de como mudar nossos piores defeitos para darmos os melhores exemplos e de aprendermos a ter coragem. Isto mesmo! Ser pai ou mãe é o maior ato de coragem que alguém pode ter, porque é se expor a todo tipo de dor, principalmente da incerteza de estar agindo corretamente e do medo de perder algo tão amado. Perder? Como? Não é nosso, recordam-se? Foi apenas um empréstimo.”



Jacir J. Venturi, professor, foi diretor de escolas e coordenador de curso superior. É pai de três filhos e avô de quatro netos.

Comments


PATROCÍNIO DIAMOND

International School.png

PATROCÍNIO SILVER

ISAAC.png
PEARSON (1).png
wizard.png

PATROCÍNIO DE SESSÃO

Edebe (1).png
MULTIVERSO DAS LETRAS.png
seven 25 (1).png

PARCEIRO DE CONTEÚDO

EDUCADOR 21.png

MÍDIA OFICIAL

revista superior.png
REVISTA EDUCACAO.png

ASSESSORIA DE IMPRENSA

mira (1).png

APLICATIVO OFICIAL

YAZO.png

O GEDUC APOIA

logo ela.png

APOIOS 

REALIZAÇÃO

colorido.png
logo-branco-25.png
26 a 28 de março 2025
branco.png

PRO MAGNO Centro de Eventos
Av. Pfa. Ida Kolb, 513 - Jardim das Laranjeiras, São Paulo - SP

  • Grey Instagram Icon

Copyright © 2022. All rights reserved.

bottom of page