Quase um ano e meio após uma interrupção abrupta do ano letivo de 2020, este final de primeiro semestre de 2021 tem alimentado uma alta expectativa de que o retorno presencial da maior parte ou até da totalidade dos alunos seja realidade em breve. É absolutamente compreensível que se anseie por uma volta a um modo de viver, se relacionar, estudar e trabalhar que nos projete para longe das aflições e angústias trazidas pela pandemia, quase como uma nostalgia de um passado bem pouco distante. No entanto, descontada a euforia em relação à retomada de algumas práticas que certamente serão benéficas e até necessárias, em alguns aspectos parece que voltar não será tão simples — ou possível.
Antes de discorrer sobre o assunto, é importante ter em mente que temos muitas escolas dentro de uma mesma instituição. Os quatro segmentos — Educação Infantil, Ensino Fundamental 1, Ensino Fundamental 2 e Ensino Médio — vivenciaram os desafios da pandemia de modo bastante distinto, dadas as especificidades de cada faixa etária. Por isso, considerarei neste artigo minha atuação como professora e coordenadora dos dois últimos.
O início da pandemia, de certa forma, nos iludiu: seria um afastamento temporário do modo de vida habitual; buscaríamos soluções paliativas até o pior passar e tudo voltar ao normal. Acontece que não foi temporário, tampouco paliativo: tivemos que criar novas formas de estar no mundo e, nesse percurso, a despeito das perdas, muita coisa potente emergiu: a descoberta das vantagens profissionais e pessoais do home office, o dinamismo do e-commerce, o amplo alcance dos eventos on-line, o boom dos podcasts. O mesmo movimento ocorreu no ensino, que provisoriamente se tornou remoto, depois se assumiu como híbrido (com muitas ressalvas aqui ao uso do termo) e agora… vai voltar ao normal?
Cada instituição tem experienciado a turbulência da pandemia a seu modo, pois muitas variáveis influenciam as tomadas de decisão em momentos tão incertos: a cultura da comunidade escolar e sua história, os recursos financeiros, a proposta pedagógica, a formação do corpo docente e dos gestores. Ainda assim, não creio que seja exagero meu afirmar que uma necessidade se impôs a toda escola: a de considerar o aluno como sujeito ativo no seu processo de aprendizagem. Inovar na pandemia foi — finalmente! — considerar que o aprendizado ocorre por meio de estímulos diversos, em tempos distintos, em espaços ilimitados.
Roteiros de estudo, videoaulas, podcasts, murais digitais, formulários, sondagens, breakouts, gamificação, rotinas de pensamento, documentos compartilhados, trabalho colaborativo, sala de aula virtual, aula invertida — quantos desses recursos e estratégias já estão incorporados à rotina de professores e alunos? Até o início de 2020, apareciam, via de regra, de modo experimental nas aulas de docentes mais ousados e antenados. Hoje termos como síncrona e assíncrona são tão comuns quanto lição de casa ou prova (tão em crise que merece um artigo só sobre ela).
A iminente volta ao ensino presencial pode colocar em risco o que considero como a grande conquista, para a educação, na superação da pandemia de Covid-19? Talvez. Não podemos perder de vista que um ano e meio ou dois para nós, adultos, é quase nada; para um adolescente, é muito. Ou seja, quem tem nostalgia da escola que vivemos até março de 2020 são os adultos educadores. Nossos alunos já se distanciaram o suficiente para se adaptar a um modo de aprender muito mais dinâmico, flexível e em sintonia com as experiências que temos no cotidiano (e no mercado de trabalho — atenção, gestores!). Não que esteja sendo fácil, especialmente para os maiores já muito condicionados a uma posição passiva. Porém, caso ainda não o tenham feito, perguntem aos estudantes de Fundamental 2 e médio o que eles acreditam que seja um legado positivo do ensino remoto e/ou híbrido (ah, o Fund 2… também merece um artigo só sobre ele).
Diante de tudo o que vivemos como educadores e comunidade escolar neste mundo pandêmico; diante de paradigmas rompidos, soluções inovadoras, obstáculos superados; diante de tantas práticas potentes, tem volta? Tomara que não.
Profa. Larissa Felipe é Coordenadora pedagógica e Professora do Departamento de Língua Portuguesa do Colégio Dante Alighieri. Ela será palestrante no RESET – A Nova Jornada do Aluno, que acontecerá de 21 a 24 de junho, das 16h30 às 20h30. Inscreva-se GRATUITAMENTE!
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